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Migliaccio, Deus e o suicídio
Postado em 08/Maio/2020
Morreu na manhã de ontem (4), no Rio, aos 85 anos, Flávio Migliaccio, um dos atores mais queridos e mais talentosos do Brasil. Ele tinha 85 anos e morreu no sítio dele em Rio Bonito, no interior do estado do Rio. Segundo a Polícia Militar, a causa da morte foi suicídio. Em tom melancólico, o ator se despediu da vida deixando uma carta.
Foram 66 anos de uma carreira marcada por personagens populares e divertidos. Flávio Migliaccio, que, além de ator, foi roteirista e diretor, participou de mais de 30 novelas e minisséries, e deixa um legado de alegria e leveza.
Declaradamente ateu, o ator estrelou uma peça em 2017 em que seu personagem tinha uma conversa com Deus. Em “Confissões de um senhor de idade”, com texto escrito e dirigido por ele mesmo, Migliaccio contava suas histórias de mais de 60 anos de carreira e oito décadas de vida.
Em entrevista na ocasião da estreia, ele comentou que o espetáculo não o fez rever suas convicções religiosas:
— Nos ensaios, Deus não conseguiu me convencer do contrário. E olha que ensaiei bastante (risos). Mas temos uma relação saudável. O homem transforma tudo numa coisa espiritual. A figura de Deus é uma energia bonita que existe na natureza.O detalhe importante é que eu não acredito nele, né? A partir daí, um começa a falar da vida do outro. É bem engraçado. Se não tiver bom humor, fico mal-humorado (risos).
O veterano, que já tinha confidenciado ter sido assediado sexualmente por um padre quando criança, no colégio, confirmou que a experiência traumática contribuiu para a sua descrença, completando:
— Aconteceram muitas coisas que fizeram com que eu me tornasse ateu. Usam a religião para ganhar dinheiro. Você pode ter religiosidade e não ter religião. Eu tenho amor pelo próximo, pela natureza, procuro viver em sintonia com o lugar em que vivo. Quando o bicho pega para o meu lado, procuro analisar os acontecimentos e resolver através da natureza. Se você está triste, anda numa praia com o vento batendo no rosto que isso pode curar.
Questionado sobre o que lhe aconteceria depois da morte, ele respondeu, com bom humor:
— Vou virar pó e ficar girando com o universo. É uma tremenda adrenalina (risos)!
O drama invisível do suicídio de idosos
O suicídio entre idosos é como aquele segredo de família que todos sabem existir, mas sobre o qual ninguém ousa falar. Tema tabu em qualquer faixa etária, a morte autoafligida soa paradoxal na terceira idade, quando tantas agruras da vida já foram superadas. As estatísticas, porém, alertam que esse silêncio precisa ser quebrado. Em todo o mundo, as maiores taxas de tentativas e atos consumados estão nas faixas etárias avançadas. No Brasil, não é diferente.
Os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde, referentes a 2017, indicam que os idosos com mais de 70 anos lideram o ranking no País – são quase 9 casos a cada 100 mil habitantes. O abandono ao fim da vida é uma das principais causas.
“Há uma invisibilidade dos idosos na sociedade”, argumenta Bruno Branquinho, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Os mais velhos são um custo para o Estado e representam um gasto maior com saúde e previdência. Isso faz com que eles se tornem invisíveis aos olhos do poder público e o combate ao suicídio dessa população acaba muito falho.”
Uma complexa teia de problemas contribui para o suicídio na terceira idade, incluindo depressão, doença física e declínio funcional, traços de personalidade, estilos de lidar com as coisas e desconexão social.
Segundo o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, é possível evitar o suicídio. Para tanto, os países precisam mobilizar-se para implementar ações eficazes e políticas públicas eficientes. A meta da OMS é reduzir em 10% os casos no planeta até o fim deste ano.
O CVV (Centro de Valorização da Vida) tem um canal para receber ligações gratuitas de telefone fixo e celular: 188. O canal de apoio emocional e prevenção ao suicídio é para pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, 24 horas todos os dias. É possível entrar em contato pelo site do CVV, e falar por chat, Skype e e-mail.
O suicídio e a Bíblia
Vou relacionar os casos ou tentativas de suicídio registrados na Bíblia, extrair algumas conclusões e então fazer comentários gerais.
Abimeleque, ferido mortalmente por uma pedra de moinho lançada contra ele por uma mulher, pediu ao seu escudeiro que o matasse para evitar a vergonha (Juízes 9:54). Saul, depois de haver sido gravemente ferido em batalha, tirou a própria vida (1 Samuel 31:4). Ellen White comenta: “Assim pereceu o primeiro rei de Israel, com o crime do suicídio em sua alma. Sua vida fora-lhe um fracasso, e sucumbira com desonra e em desespero, porque pusera sua vontade própria e perversa contra a vontade de Deus” (Patriarcas e Profetas, p. 682). Vendo o que o rei fizera, seu escudeiro “jogou-se também sobre sua espada e morreu com ele” (verso 5, NVI). Essas mortes foram motivadas pelo temor daquilo que o inimigo lhes poderia fazer.
Aitofel, um dos conselheiros de Absalão, enforcou-se depois de saber que o rei rejeitara seu conselho (2 Samuel 17:23).
Zinri tornou-se rei depois de um golpe de Estado, mas ao perceber que o povo não o apoiava, foi “à cidadela do palácio real e incendiou o palácio em torno de si e morreu” (1 Reis 16:18, NVI).
Judas ficou tão desorientado emocionalmente depois de haver traído Jesus, que acabou se enforcando (Mateus 27:5). Ellen White diz que Judas “sentiu que não podia viver para ver Jesus crucificado, e em desespero, foi enforcar-se” (O Desejado de Todas as Nações, p. 692). Jesus sabia o que Judas estava planejando; contudo, não “proferiu nenhuma palavra de condenação. Olhou piedosamente para Judas, dizendo: Para esta hora vim ao mundo” (Idem). Se Jesus, conhecendo o coração humano, pode continuar a trabalhar com pessoas sem condená-las, podemos ser diferentes?
Sansão tirou a própria vida e a de muitos proeminentes inimigos ao fazer com que um edifício todo ruísse (Juízes 16:29-30).
Depois do terremoto, o carcereiro de Filipos pensou que os prisioneiros haviam fugido e tentou se matar por temor, mas Paulo convenceu-o a não fazê-lo (Atos 16:26-28).
Ellen White menciona que Pilatos também cometeu suicídio. “A arriscar sua posição, preferiu entregar Jesus para ser crucificado. A despeito de suas precauções, porém, exatamente o que temia lhe sobreveio mais tarde. Tiraram-lhe as honras, apearam-no de seu alto posto e, aguilhoado pelo remorso e orgulho ferido, pôs termo à própria vida.” (O Desejado de Todas as Nações, p. 709, 710)
Então... como devemos reagir diante do suicídio de alguém a quem amamos?
Primeiro, a psicologia e a psiquiatria têm revelado que o suicídio geralmente é o resultado de um profundo transtorno emocional ou desequilíbrio bioquímico associado a um profundo estado de depressão e medo. Não deveríamos julgar as pessoas que optaram pelo suicídio sob tais circunstâncias.
Segundo, a perfeita justiça de Deus leva em consideração o impacto que nossa mente perturbada tenha eventualmente sobre nós; Ele nos compreende melhor que do que qualquer ser. Devemos colocar o futuro de nossos queridos em Suas mãos de amor.
Terceiro, com a ajuda de Deus, podemos encarar a culpa de uma maneira construtiva, tendo em mente que muitas vezes aqueles que cometeram suicídio necessitavam de ajuda profissional que nós mesmos fomos incapazes de proporcionar.
Finalmente, se você alguma vez for tentado a cometer suicídio, saiba que há profissionais disponíveis, medicamentos que podem ajudá-lo a superar a depressão, amigos que o amam e fariam todo o possível para ampará-lo, e um Deus que está disposto a trabalhar por você e, por meio de outros, dar-lhe forças quando caminhar pelo vale da sombra da morte. Nunca perca a esperança!
"Se tomarmos conselho com as nossas dúvidas e temores, ou procurarmos solver tudo que não podemos compreender claramente, antes de ter fé, as dificuldades tão-somente aumentarão e se complicarão. Mas se chegarmos a Deus convencidos de nosso desamparo e dependência, tais quais somos, e com humilde e confiante fé fizermos conhecidas nossas necessidades Àquele cujo conhecimento é infinito, e o qual tudo vê na criação, governando todas as coisas por Sua vontade e Palavra, Ele pode atender e atenderá ao nosso clamor, e fará a luz brilhar em nosso coração" (Caminho a Cristo, pp. 96-97).
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